Para Além do Indivíduo
Arquitetura para uma Nova
Longevidade: o que precisa mudar?
Transformar a narrativa sobre o envelhecimento é uma mudança fundamental na arquitetura para uma nova longevidade, especialmente na cultura jovem-cêntrica brasileira. Discursos idadistas propagam o imaginário de que as pessoas idosas são incapazes ou não estão dispostas a continuar contribuindo para a sociedade. Esses estereótipos diminuem a autoestima das pessoas idosas, criando barreiras para o trabalho, o aprendizado, a conexão, a saúde e a inclusão. Precisamos desafiar e derrubar esses estereótipos, mostrando as contribuições essenciais das pessoas idosas para nossas famílias, comunidades e locais de trabalho. Ao reformular a forma como a sociedade vê o envelhecimento, destacando essas contribuições, é possível promover uma estrutura social mais inclusiva e progressiva.
Programas e atividades intergeracionais podem colaborar nesse sentido, ao aumentarem a coesão social e a compreensão mútua entre os grupos etários. Além disso, criam oportunidades de crianças e jovens se envolverem de forma significativa com pessoas idosas, desconstruindo estereótipos negativos que reduzem a autoestima e podem comprometem a capacidade de aprendizado e socialização das gerações mais velhas.
Com relação à estrutura familiar tradicional, é preciso rever dinâmicas que tendem a colocar as pessoas idosas ou em papéis passivos, limitando sua autonomia e participação, ou no papel de cuidadores, seja de netos ou mesmo de pais idosos. Ao mesmo tempo, o aumento do modelo de família nuclear demanda atenção de iniciativas e políticas públicas porque reduzir a rede de apoio essencial para a qualidade de vida da pessoa idosa.
No âmbito da saúde, é necessário adotar programas educacionais que promovam estilos de vida saudáveis e medidas preventivas ao longo de toda a vida, evitando diagnósticos tardios e complicações das condições de saúde. Juntas, essas iniciativas ajudam a mudar atitudes arraigadas na cultura que priorizam o tratamento em detrimento da prevenção.
Há várias maneiras de participação na sociedade, mas uma das mais impactantes é proporcionar a todos a oportunidade de contribuição ao longo da vida, seja por meio do trabalho, do voluntariado ou do cuidado.
Pesquisas demonstram que as pessoas que continuam engajadas trabalhando e contribuindo após os 65 anos de idade permanecem saudáveis por mais tempo além de contribuirem para a economia do país*.
Transformar a percepção de que as pessoas idosas são menos capazes é um meio de ampliar suas chances de progressão na carreira ou de reingresso no mercado de trabalho. Investimentos em políticas que promovam a inclusão de trabalhadores idosos na força de trabalho são necessários e devem conciliar programas de alfabetização digital e de requalificação e aprimoramento de habilidades profissionais considerando as novas demandas do mercado.
Investir em programas de aprendizagem ao longo da vida e de treinamento vocacional pode aumentar as oportunidades de geração renda suplementar, impulsionadas por ofertas de trabalho flexíveis e oportunidades de empreendedorismo.
O setor de saúde suplementar deve investir e incentivar o envelhecimento saudável, adequando ofertas, coberturas e custos às necessidades das pessoas idosas.
Programas de moradia e serviços sociais devem ser ampliados e adaptados para pessoas idosas.
*McKinsey Health Institute (MHI). Aging with purpose: Why meaningful engagement with society matters. October 2023.
É crucial que haja uma aplicação mais rigorosa das leis antidiscriminação visando o combate ao idadismo. Também é essencial que a sociedade implemente de forma eficaz o Estatuto da Pessoa Idosa e desenvolva políticas públicas abrangentes que respondam às necessidades específicas dessa população. Isso inclui melhorar o acesso à assistência médica, transporte e moradia acessíveis, além de aumentar o financiamento e os recursos para programas sociais que promovam o envolvimento comunitário e oportunidades de participação longo de toda a vida.
É necessário fortalecer os mecanismos de aplicação das leis e regulamentações que protejam os direitos das pessoas idosas, como os direitos financeiros e de propriedade, e aumentar a conscientização sobre esses direitos para que as pessoas idosas possam reivindicá-los com mais segurança.
A sociedade precisa revisar as políticas de aposentadoria para apoiar a participação econômica contínua das pessoas idosas, promovendo arranjos de trabalho flexíveis e oportunidades de meio período que permitam sua permanência no mercado de trabalho.
Devem ser estabelecidos incentivos e maior conhecimento sobre as novas regras trabalhistas para encorajar os empregadores a contratar ou manter pessoas idosas na força de trabalho, juntamente com o fortalecimento das proteções legais contra a discriminação por idade.
Políticos e formuladores de políticas devem incluir de maneira mais eficaz as necessidades das pessoas idosas em suas agendas, criando plataformas políticas que priorizem esse grupo etário e assegurem sua proteção e direitos por meio de leis e regulamentações robustas.
Além disso, é crucial aumentar a representação das pessoas idosas nos processos de tomada de decisão política, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e que suas necessidades sejam atendidas de maneira adequada. Por essa razão, o voto da pessoa idosa pode ser um instrumento importante de participação e exercício da cidadania.
O envolvimento ativo com líderes comunitários e organizações que representam os interesses das pessoas idosas também é necessário para elaborar e defender políticas mais inclusivas.
Para que essas mudanças ocorram, é fundamental aumentar a conscientização sobre os desafios enfrentados pelas pessoas idosas e as oportunidades que uma maior inclusão deste grupo pode gerar para sociedade.
O conceito de “ambientes amigos do idoso” surgiu nas últimas décadas e possibilitou a criação de diferentes estruturas para cultivar relacionamentos e colaboração multigeracionais (por exemplo cidades, comunidades, universidades e empresas amigas da pessoa idosa). Redesenhar os espaços para incluir pessoas de todas as faixas etárias, além de envolver várias gerações na cocriação de produtos, serviços e políticas para sociedades em processo de envelhecimento, aumenta as chances dessas soluções serem relevantes para as pessoas idosas.
É preciso investir em moradia adaptada às necessidades das pessoas idosas, com recursos essenciais, como rampas, barras de apoio e piso antiderrapante, que minimizam o risco de quedas e lesões responsáveis por limitar a mobilidade e a independência. O entorno das moradias também deve ser repensado para que as pessoas idosas tenham acesso a centros comunitários, parques e atividades sociais, incentivando a convivência e apoio entre as gerações.
A infraestrutura urbana deve se adequar às necessidades das pessoas idosas. Espaços públicos, calçadas e edifícios devem ser acessíveis, facilitando a locomoção de pessoas em suas comunidades. Sistemas de transporte público devem ampliar essa mobilidade e independência, facilitando o acesso a serviços essenciais e atividades sociais. Além disso, é fundamental garantir a segurança em espaços públicos.
A sociedade precisa implementar mudanças significativas para escalar a acessibilidade e a alfabetização digital. É preciso reduzir os custos dos dispositivos e dos serviços de Internet necessários para acessar serviços essenciais para a cidadania. Além disso, devem ser desenvolvidos e expandidos programas de inclusão digital voltados para pessoas idosas, ajudando-as a superar a falta de confiança e segurança no uso de plataformas digitais. A transição para serviços de saúde digitais também precisa ser mais inclusiva, garantindo que as pessoas idosas tenham a capacidade de acessar informações de saúde confiáveis e serviços on-line sem exclusão digital.
A sociedade deve fornecer apoio robusto para a requalificação e o aprimoramento de trabalhadores mais velhos, permitindo que eles se adaptem às novas tecnologias e aumentem suas oportunidades em setores voltados para a tecnologia. Além disso, a capacitação digital é fundamental para estimular o empreendedorismo entre pessoas idosas, oferecendo novas vias para a independência financeira e a inovação.
Por último, fomentar a inclusão digital amplia as possibilidades de participação de pessoas idosas em eventos e atividades para o âmbito digital, incluindo oportunidades de aprendizado continuado ao longo da vida e de interação intergeracional, fortalecendo assim o envolvimento comunitário através de plataformas digitais.
Os impactos positivos da contribuição ao longo da vida estão sendo cada vez mais documentados globalmente.
As pesquisas ressaltam os benefícios significativos do envolvimento social, da participação ativa e do senso de propósito para uma vida mais saudável e longa*.
Esses estudos exploram os efeitos profundos sobre a saúde física e mental do indivíduo, a estabilidade econômica, a conexão social e as implicações mais amplas para a saúde pública e a prosperidade econômica.
É crucial disseminar esses dados para promover mudanças culturais e catalisar investimentos em reformas econômicas, políticas, legais e organizacionais que defendam os direitos e o bem-estar das pessoas idosas.
*Healthy Ageing Decade / Década de Envelhecimento Saudável
Organização Pan-Americana da Saúde.
Década do Envelhecimento Saudável: Relatório de Linha de Base. Washington, DC: OPAS; 2022.
Disponível em: https://doi.org/10.37774/9789275726587
Um exemplo pode ser o idadismo, identificado pelo ecossistema como uma das principais barreiras para que as pessoas possam envelhecer com saúde e contribuindo para a sociedade ao longo da vida. Isso pede uma mudança cultural, alavancada a partir de novas representações do envelhecimento na mídia e inclusão de uma educação para longevidade e de programas intergeracionais nos currículos escolares.
A mudança cultural reduz a discriminação contra trabalhadores mais velhos, ampliando as oportunidades de progressão na carreira ou de reingresso no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, a visibilidade dada às novas narrativas do envelhecimento coloca a longevidade como parte do debate público e de nossa agenda, impulsionando as políticas que podem ampliar as oportunidades de inclusão digital, aprendizado ao longo da vida e envelhecimento saudável, convergindo para uma sociedade que valoriza a contribuição de todas as pessoas independentemente da idade.
Acionamos nossa inteligência artificial especialista para extrair insights sistêmicos sobre as dimensões da arquitetura da Nova Longevidade, que apontam as mudanças estruturais necessárias para que as pessoas possam envelhecer com saúde e continuar contribuindo para a sociedade ao longo de toda a vida.
Para saber como colaborar com a arquitetura de mudança para uma Nova Longevidade, entre em contato e venha cocriar conosco o Lab Nova Longevidade.