Secretário Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa
O que a gente tem aprendido é isso. Há muitos direitos que as pessoas idosas talvez ainda não tenham percebido que elas têm tamanha é, muitas vezes, essa condição histórica de vulnerabilidade, de violências que são perpetuadas contra elas.
Alexandre da Silva
O que a gente tem aprendido é isso. Há muitos direitos que as pessoas idosas talvez ainda não tenham percebido que elas têm tamanha é, muitas vezes, essa condição histórica de vulnerabilidade, de violências que são perpetuadas contra elas. Então, há muito que elas já sabem: o direito à saúde, a questão do trabalho. Esses são direitos que elas já reconhecem há muito tempo. Mas o que a gente quer ampliar é também a percepção da importância de um letramento em envelhecimento para todos os atores sociais presentes ali, sejam gestores de prefeitura, sejam acadêmicos, sejam profissionais das mais diversas áreas que atuam em relação à pessoa idosa. É necessário que a gente garanta o conhecimento, o letramento em envelhecimento e em pessoas idosas e eu estou querendo destacar esses dois pontos.
“O desafio maior é que o Conselho Nacional consiga incorporar essas pessoas, essas presenças, essas representatividades, dentro daquilo que já era falado sobre pessoa idosa e daquilo que precisa ser falado sobre pessoas idosas.“
A gente espera que essa aproximação da Secretaria Nacional de Direitos da Pessoa Idosa com o Conselho Nacional de Direitos da Pessoa Idosa possa levantar a pauta da pessoa idosa, pensando nas ações, pensando nos programas, pensando em projetos, pensando nas leis, garantindo esses direitos. E que essa aproximação também possa reverberar na aproximação dos gestores estaduais e Conselhos Estaduais da Pessoa Idosa e entre Conselhos municipais e gestores municipais da pessoa idosa ou mesmo de gestores de áreas afins, que acabam sendo todas já que qualquer ponto que fale das pessoas idosas precisa ser transversal.
Sr. Secretário Alexandre da Silva: Tem um ponto que já é positivo antes mesmo dessa gestão estar aqui. Historicamente, as pessoas idosas votam! Só para você entender numericamente, hoje nós somos 15,8% de pessoas idosas. Esse número já foi menor em anos anteriores, mas quando a gente olha para o TSE, a gente vê que a proporção de pessoas idosas que votam sempre foi superior a 20%.
“Ou seja, as pessoas idosas sempre votaram. Elas sempre fizeram essa questão de exercer o seu papel no momento do voto, de escolher quem vai ajudá-las a continuar envelhecendo ou chegar à velhice, por exemplo.“
Mas o que a gente está preocupado é com o momento histórico. Esse momento que nós estamos passando. A gente vê não só o Brasil, mas outros países, há uma polarização, em discussões e em narrativas. E não só de narrativas. Acho que isso que é até uma das riquezas de se viver, né? Cada um criando suas narrativas. O grande problema hoje é que a gente cria narrativas, algumas ou muitas até focadas, baseadas em mentira, embasadas em discurso de ódio. E isso está trazendo uma ameaça para a democracia e para o direito de alguns grupos sociais de poderem viver.
Eu falando viver parece muito simples, certo? Mas olhando para muito do que se passou, do que se passa na nossa história enquanto país, muitos grupos sociais nascem já sobrevivendo e vão morrer sobrevivendo. Então isso não é correto. A gente tem que garantir cada vez mais esse protagonismo das pessoas e, principalmente, das pessoas idosas. Então veja, nós temos hoje uma organização de eleições municipais, estaduais, federais, onde a cada dois anos as pessoas, nós vamos para as urnas, certo? Tome uma pessoa hoje de 70 anos. Pense quantas vezes ela vai votar em representantes, prefeitos, prefeitas, senadores, senadoras, deputados, deputadas, presidenta, presidente, enfim, que vão fazer coisas para ela. É impossível imaginar um cenário de eleição sem as pessoas idosas.
E mais, quantos municípios hoje têm uma proporção ainda maior do que os 15,8% de pessoas idosas? Estou falando de estados que têm 20% e falo de municípios que têm 30% quase 40% de pessoas idosas. Você imagina esses municípios não tendo as pessoas idosas votando? A representatividade seria muito pouca. São as pessoas idosas que podem definir, que vão falar eu quero, nós queremos que esse candidato, que essa candidata nos represente, seja como vereadora, vereador, deputado, prefeito, prefeita, governadora e assim por diante. Então é necessário que a gente convoque não só o governo federal, mas o terceiro setor, o setor privado, a academia e os movimentos para a gente dar transparência às informações para as pessoas idosas. E ao dar transparência, que nós possamos estimular ainda mais a autonomia na escolha de candidatos e candidatas.
Sr. Secretário Alexandre da Silva: o Brasil e é esse mundo, é um país de dimensões continentais, onde a gente tem já a presença de muitas pessoas idosas em diversos espaços acima da média de 15,8% e em outros muito abaixo disso. Mas de um jeito do outro, todo mundo está querendo garantir essa boa condição de vida das pessoas idosas. Então, tem muita gente fazendo coisa boa, tem muitas pessoas tendo experiências ótimas sobre como o envelhecimento daqueles grupos que têm dificuldade pra chegar aos 60 anos.
“E por que não nos aproximar, não aproveitar tudo isso que já foi feito? Então, pensar em envelhecimento é a gente olhar para trás e ver o que tem sido feito já. Essa coisa de não deixar ninguém para trás, para mim isso aqui também quer dizer reconhecer as instituições que, mesmo novas, já vêm com uma potência muito grande.“
A gente viu isso muito forte no momento da pandemia da COVID-19. Quantos grupos sociais, quantas organizações sociais foram revolucionárias nos seus territórios, garantindo esse bem viver de pessoas idosas? Então, a ideia é que venham, que mostrem para nós o que têm feito. Muitas vezes, a gente quer aproveitar a totalidade e expandir. Às vezes a gente faz alguns ajustes ou junta uma ideia com a outra. E que isso possa cada vez mais se tornar projetos nossos e, quem sabe, programas nossos. E quem sabe até políticas, compor políticas de estado, do nosso país. Isso é fazer o trabalho coletivo, é o sentido de fato de estar em grupo, de estar no coletivo, pensando uma pauta coletiva que é das pessoas idosas.
Sr. Secretário Alexandre da Silva: A redução do idadismo. Esse é o ponto central, sabe? Eu vejo que se a gente conseguisse reduzir, mitigar, as diversas manifestações do idadismo na sociedade – o cultural, o institucional e interpessoal, o pessoal internalizado – se tudo isso pudesse ser mitigado, com certeza a gente veria na pessoa idosa o protagonismo que ela tem, a autonomia que ela tem, um desejo e uma motivação. E isso vai servir de exemplo para toda a sociedade, certo? Até ver o seu mais velho, a sua mais velha, vivendo e não sobrevivendo, criando, aproveitando os propósitos, aproveitando as oportunidades, vivendo do seu propósito, vivendo para o seu propósito. Isso vai servir de exemplo para as novas gerações. E com certeza isso será revolucionário!
“Então, para mim, isso é um ponto central e daria para a gente dar diversos exemplos de como o idadismo ainda é muito forte na nossa sociedade, a ponto da gente ter em diversos espaços muitas pessoas idosas que falam da questão das várias pautas, mas não conseguem trazer às vezes isso convergindo para a questão da pauta do envelhecimento.“
Isso sem falar dos mais diversos setores que falam das pessoas idosas, mas na hora de firmar mesmo um pacto ali com a sociedade, acabam também fazendo uma certa omissão ou um pacto mais fragilizado porque a gente tem pessoas que não querem reconhecer ou querem esconder o seu envelhecer. E isso para mim é o que há de mais belo na vida. Esses são alguns exemplos do quanto nós podemos ser revolucionários quando reduzirmos o idadismo no nosso país e no mundo.
Alexandre da Silva é Secretário Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, Vice-Presidente do Conselho Nacional da Pessoa Idosa e Conselheiro no Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa idosa no âmbito do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). Possui especialização em Gerontologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), doutorado em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) e mestrado em Reabilitação pela Unifesp. Exerce também a função de Professor Adjunto no Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ) e já atuou como colunista sobre Envelhecimento, Velhices e Longevidade no Uol e no O Futuro das Coisas. Com ampla experiência em pesquisa, ativismo e consultoria, concentra suas contribuições nas áreas de envelhecimento, velhices, desigualdades e discriminações. Participa ativamente dos Grupos Temáticos (GT) Envelhecimento e Saúde Coletiva e do GT Racismo e Saúde, ambos da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, e anteriormente, foi membro do Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brasil) com foco em raça, etnia e desigualdades sociais. Sua expertise engloba consultoria, pesquisa, análise de dados, palestras e aulas, com ênfase em envelhecimento, direitos humanos e cidadania, políticas públicas, saúde pública, saúde da população negra e saúde coletiva. Adicionalmente, foi colunista do UOL-Longevidade, contribuindo com reflexões e análises sobre o envelhecimento e a vivência das pessoas idosas.