Bruno Pipponzi

Bruno Pipponzi

Grupo RD Saúde

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O futuro, a inovação para mim está aí: é o quanto a gente consegue inserir a farmácia na saúde e o quanto a gente consegue, através de tecnologia, ampliar a resolutividade dela.

Bruno Pipponzi

O Grupo RD Saúde tem como objetivo tornar-se o grupo que mais contribui para uma sociedade mais saudável no Brasil. O que é uma sociedade mais saudável? E para o Grupo RD Saúde, de que forma o envelhecimento faz parte desse projeto?

Bruno Pipponzi: Desde a nossa fundação, a gente trabalha com a missão de prover saúde para as pessoas. No passado, a farmácia era o lugar onde as pessoas iam buscar ajuda quando elas tinham qualquer tipo de questão simples, como dor de barriga, dor de garganta, dor de ouvido, criança com febre. Então, lá atrás esse era o papel da farmácia. Com o tempo, ela foi se afastando um pouco dessa atribuição. Ela foi virando um negócio mais de varejo, um ponto de distribuição de produtos, de medicamentos etc. O fato é que há uns quatro, cinco anos atrás, a gente entendeu que o futuro da saúde caminhava para colocar a farmácia de volta nesse papel. O tempo foi mostrando que o sistema de saúde não parava mais de pé por uma série de razões, por ser muito caro, por falta de filosofia preventiva.

Quando a gente ainda coloca nessa equação a questão do envelhecimento da população, até 2060 se não me engano, a gente vai ter cerca de 60 milhões de brasileiros com mais de 60 anos. Ou seja, temos ainda o desafio de envelhecimento da população que é gigantesco. A gente entendeu que nesse processo de uma saúde mais preventiva, ajudando as pessoas a serem mais saudáveis ao longo do tempo, a farmácia pode exercer um papel assim, simplesmente insubstituível, por ela estar presente no dia a dia das pessoas, por existir uma relação de vínculo do farmacêutico com as pessoas. As pessoas estão sempre visitando as mesmas lojas e elas chamam o farmacêutico pelo nome, confiam muito nessa pessoa.

A gente realmente enxerga que o nosso negócio pode ser um grande alavancador de uma saúde mais sustentável no futuro em todos os sentidos: seja para uma população mais saudável e mais consciente da sua própria saúde, com pessoas que fazem escolhas mais adequadas sobre os seus hábitos, sobre seu estilo de vida; seja para o cuidado de condições crônicas e que vão ser tão comuns numa sociedade que envelhece. A gente entende que a farmácia pode ser um grande aliado no sentido de proteger as pessoas ou ajudar essas pessoas a administrarem essas condições de uma maneira mais controlada. Além disso, a farmácia pode ser um grande ponto de atendimento de condições agudas simples. Eu acho que aqui tem um caminho sensacional de a gente baratear o sistema e evitar realmente de as pessoas irem parar num hospital por condições muito básicas, que custam muito para o sistema.

E a gente fala também muito da vacinação, de a gente ajudar a população a se proteger num mundo que vai ser, infelizmente, cada vez mais infestado por vírus, né?  A gente enxergou essa oportunidade, enxergou esse papel, o resgate desse papel. A gente construiu essa estratégia e eu diria que o nosso futuro é reposicionar a farmácia como era no passado mesmo, só que agora com muito mais tecnologia, com muito mais assertividade. O sistema pode ser infinitamente mais eficiente. Agora sobre “o que é ser mais saudável”, que você perguntou: são todos esses pontos que eu te falei. É ter controle da sua própria saúde, fazer as melhores escolhas, controlar suas condições de saúde. É se vacinar e se alimentar bem. É ter uma saúde mental adequada, fazer atividade física. Esse é o conceito que a gente carrega de saúde.

Uma avó, olha com amor para seu netinho

Vocês possuem uma rede com mais de 3 mil farmácias em todo o Brasil, isso dá uma capilaridade única, então, de que maneira essa rede pode contribuir para ampliar e, principalmente, para inovar o acesso à saúde no território brasileiro?

Bruno Pipponzi: Eu acredito que a própria ideia da farmácia de fato inserida no sistema de saúde é uma grande inovação para o sistema. Porque deveria ser assim hoje e não é. Ou seja, a farmácia não é um agente de saúde de fato conectado ao sistema. Ela é praticamente um elo perdido. Hoje, se você vai na maior parte das farmácias, não existe controle de protocolos, não existe controle de qualidade, não existe um atendimento de saúde de fato. Existe acolhimento, existe cortesia, existe cuidado. Mas falta realmente essa visão de um estabelecimento de saúde.

Falta uma linha de cuidado que comece na farmácia?

Bruno Pipponzi: Falta saúde de fato dentro da farmácia. Eu falo muito para a minha turma aqui: a gente tem que se enxergar amanhã como uma empresa que oferece o mesmo nível de qualidade no serviço de saúde que a gente oferece hoje no atendimento. A gente acha que atendimento é o serviço de saúde e não é. Atendimento é receber uma pessoa no balcão, entender de fato o que ela tem, entregar a prescrição que ela necessita, ajudá-la de todas as formas pra que ela saia com o que ela precisa e não mais do que aquilo que ela precisa, ter cordialidade, educação. Isso é atender bem. Mas a gente, às vezes, confunde o atender bem com oferecer um bom serviço de saúde. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Você pode atender bem e não oferecer o serviço de saúde. Outros varejos fazem isso. 

A gente precisa colocar dentro da nossa farmácia o serviço de uma maneira extremamente rigorosa, com todo o olhar que a saúde pede. Ou seja, você tem que estar conectado à saúde, ao acadêmico, aos estudos. Você tem que preparar o seu farmacêutico de uma forma que ele cumpra um protocolo, que interprete bem a situação. Faça o transbordo, quando necessário também para outros estabelecimentos de saúde. Eu acho que a grande inovação da farmácia daqui pra frente é se inserir no sistema como um real provedor de saúde. E, além disso, alavancar muito as tecnologias de hoje para que a resolutividade daquele serviço aumente. 

Vou te dar um exemplo. Hoje a gente desenha alguns serviços na farmácia conectados à telessaúde. Eu estou pilotando com um grande parceiro aqui de São Paulo, uma instituição de saúde de primeira linha, que está ajudando a gente a construir protocolos de atendimento para cerca de 130 sintomas, nos quais o farmacêutico acolhe o cliente na farmácia, faz uma série de aferições de parâmetros clínicos para entender realmente qual é a condição, sobe essas informações num prontuário eletrônico e essas informações vão para um médico, que do outro lado da tela vai receber esses dados e vai fazer um atendimento para dar resolutividade. 
O futuro, a inovação para mim está aí: é o quanto a gente consegue inserir a farmácia na saúde e o quanto a gente consegue, através de tecnologia, ampliar a resolutividade dela.

De que forma que a inclusão digital dos 60+ pode ser um gargalo para a inovação nesse aspecto? Como é que vocês estão trabalhando isso?

Bruno Pipponzi: A gente tem um componente muito favorável nessa equação, porque a gente é uma empresa high-touch. A gente não é uma empresa high-tech na essência, o que nos torna muito diferenciados nesse processo de reconstrução da saúde é o fato da gente ter 3 mil farmácias que marcam a sua presença física nas esquinas das 600 cidades em que a gente está no Brasil. Eu já vi muito compartilhado em eventos e fóruns que a saúde tem que ser cada vez mais tecnológica pra reduzir custos, dar mais resolutividade, mais segurança. Mas ela nunca vai perder esse DNA do contato humano, porque afinal de contas estamos tratando de pessoas. 

Quando você está com algum sintoma mais severo, mais importante, você quer ser visto por alguém. Ninguém se sente tranquilo ou acolhido sem essa parte. Então, a gente, nesse sentido, tem esse grande diferencial. Eu acho que a RD Saúde ela pode e deve ser uma empresa com uma mescla 50/50 do contato humano e da tecnologia. E olhando pra frente, mesmo para os 60+ é natural que a digitalização vá cada vez mais acompanhar esse público, porque novas gerações vão ter 60 anos. Em 2060, a gente vai ter muito mais, eles vão ser mais digitais, com certeza. E sem dúvida nenhuma, vai diminuindo a barreira. 

Mas pensando no hoje, eu acho que a nossa presença física, ela por si só, é um elemento que quebra muito esse problema. Isso porque o idoso hoje, um dos grandes programas que ele tem, principalmente no interior, é ir na farmácia pra conversar, às vezes com o farmacêutico, às vezes pra receber atenção de alguém que está sempre lá e tudo mais. Então eu vejo essa barreira um pouco menor com a gente, porque a gente tem esse DNA. Mas quando você pensa em soluções puramente digitais, eu já acho que é uma barreira bem maior. E tem perdas aí porque tecnologias digitais podem aproximar muito o cuidado, desde que a pessoa tenha acesso a esse lugar. E hoje nós não estamos tão disseminados na cultura digital nos 60+, ainda tem um longo caminho a percorrer.

Em algum momento, muito provavelmente, todos seremos cuidadores de alguém? Será que a gente já tem consciência disso? Como é que você avalia a cultura do cuidado no Brasil?

Bruno Pipponzi: De maneira geral, as pessoas não têm essa visão. Infelizmente, o Brasil não dá as mesmas condições para todo mundo. Mas a gente vê as pessoas que têm mais condição e mais consciência sobre a saúde, o desafio que elas mesmas se impõem de viver mais e melhor. Cada vez mais as pessoas estão entendendo que não é sobreviver até os 95 anos e sim sobreviver até os 95 anos com qualidade, com autonomia, com independência. Eu acho que a saúde está muito relacionada a isso: a sua capacidade de realizar suas próprias tarefas, seus projetos e por aí vai. Então, eu acho que cada vez mais existe uma visão das pessoas em torno de um envelhecimento saudável, com independência, com autonomia. Mas ao mesmo tempo, eu não acho que existe uma consciência de que tudo isso é para que você tenha a sua liberdade e que você não dependa de alguém. Esse olhar de prover cuidado ao outro ainda é muito pouco desenvolvido, em qualquer segmento. Este é um ponto importante para endereçar, sem dúvida.

Senhor sentado em sua sala olhando para sua mesa de escritório

De que forma a iniciativa privada pode colaborar com o setor público na coprodução de soluções para o desafio da saúde em larga escala? O grupo RD Saúde tem alguma experiência em sinergia com o Governo hoje ou teve no passado?

Bruno Pipponzi: Temos exemplos práticos. A gente tem uma parceria pública que foi super bem sucedida, que é o Farmácia Popular. Num determinado momento, o Governo entendeu que distribuir essas medicações e fazer uma logística própria era oneroso, era difícil. Aí eles criaram um programa pra financiar medicamento para população de baixa renda e criaram o conceito do Farmácia Popular, que a farmácia se credencia, ela tem um sistema de autorização e ela libera a medicação para os cidadãos que são elegíveis ao programa e recebe o reembolso do Governo por valores tabelados, com transparência. Foi um programa que sempre funcionou muito bem, teve altos e baixos a depender do Governo, alguns governos financiaram mais, outros menos, mas ele sempre funcionou muito bem.

Olhando pra frente, eu acho que a gente tem que ampliar esses modelos de parceria até pegando o próprio Farmácia Popular. Por exemplo, nessa transição da farmácia para se tornar um agente de saúde da comunidade, cada vez mais a gente pode distribuir para população mais do que medicamento. Se eu tenho serviços dentro da farmácia que podem ajudar a monitorar um paciente crônico para evitar que ele amanhã esteja descontrolado e tenha um problema mais sério, posso fazer isso através das farmácias. Elas podem ser esse lugar de cuidado. Por mais que a gente tenha hoje um sistema público capilarizado, pois tem as UPAs, UBS e tudo mais, são 90 mil farmácias no Brasil. Elas estão em todos os lugares.

Se a gente capacitar e fizer dessas farmácias realmente o endereço onde as pessoas possam buscar ajuda para serviços simples e básicos de saúde, eu acho que a gente garante através dessa capilaridade, um sistema muito mais conveniente, muito mais eficiente. Mas obviamente que para isso acontecer essas farmácias têm que estar preparadas, elas têm que ter protocolos, elas têm que ter um desenvolvimento em saúde suficiente, inclusive para ter a própria informação que é capturada ali ela se dissemine no sistema público. 

Então a gente inclusive tem algumas frentes aqui de trabalho, com algumas iniciativas público-privadas, que visam construir esse sistema do OpenCare que eles chamam aqui. É uma integração da base de informações das pessoas do SUS com a rede privada, para que a gente consiga ter a visão única dos usuários do sistema. Então imagina um cliente que vai amanhã na farmácia, faz uma aferição de glicemia. Esse valor é consolidado numa “wallet” de saúde que você tem ali integrada no sistema. Então se ele abrir amanhã o prontuário lá numa UPA, ele vai ver o resultado do serviço que ele fez na farmácia. Então, eu enxergo que a farmácia tem um papel crucial nesse futuro. E acho que uma parceria público-privada, a exemplo do Farmácia Popular, mas que inclua muito mais do que a caixinha do medicamento, trazendo esses serviços todos que eu falei, pode ser de um valor tremendo. 

E com relação aos empreendedores, de que forma eles podem colaborar com a iniciativa privada? O Grupo RD já desenvolveu algum projeto em parceria com empreendedores sociais ou com startups?

Bruno Pipponzi: Sim, um monte. A gente tem uma área aqui de Open Innovation que está sempre fazendo o relacionamento com o ecossistema de inovação para entender realmente projetos empreendedores que possam estar alinhados com essa nossa tese pra acelerar as nossas entregas. E nos últimos cinco anos, a gente fez uma série de investimentos em startups, empresas que ajudaram a gente a construir essa visão de atenção primária. Para te dar alguns exemplos, a gente investiu numa empresa de prontuário eletrônico. Afinal, se a gente queria realmente construir um serviço de saúde robusto na farmácia, tem que ter um prontuário bem estruturado. A gente investiu numa empresa de Santa Catarina, lá de Chapecó, que é a Amplimed, e eles construíram um prontuário farmacêutico que hoje está em todas as nossas lojas. Então esse serviço que eu estava falando da Telessaúde é feito através do prontuário da Amplimed, com os protocolos lá dentro.

Se eu for hoje a uma farmácia do grupo, eu consigo um teleatendimento?

Bruno Pipponzi: A gente está pilotando esse serviço em dez lojas com operadoras. Porque o canal pagador é a operadora, que é o efeito da gente evitar a  internação. Então, a pessoa elegível vai na farmácia, faz o atendimento e aí ela tem o transbordo quando necessário para o médico, com o protocolo já alinhado entre as partes. E o médico, no caso, é do Oswaldo Cruz. Estamos concluindo um projeto super robusto e o prontuário eletrônico é da Amplimed.  O outro que a gente fez é a TecFit, foi com uma empresa que a gente comprou e que era especializada em construir produtos digitais de saúde e bem-estar, muito focada em mudança de hábito, engajamento dessas jornadas digitais. E aí a gente transformou essa empresa na organização que constrói as jornadas digitais da nossa plataforma de saúde. Então a gente tem uma plataforma de saúde RD que conecta, a partir dos serviços da farmácia, jornadas digitais. Por exemplo, se você fizer uma bioimpedância na farmácia e os resultados derem que você está acima do peso, a gente pode oferecer um programa digital de nutrição, onde os dados da bioimpedância sobem no prontuário da Amplimed, o nutricionista faz o atendimento olhando pra esses dados, cria o plano nutricional e acompanha no prontuário dele no aplicativo do cliente. E aí o cliente recebe lá o programa de exercícios, o nutricional, os cardápios diários. Aí ele vai pontuando se ele se engajar nos programas de exercício. Ou seja, criou toda uma mecânica digital para dar sequência ao serviço que a gente faz na farmácia. E para te dar um terceiro exemplo, a gente tem a CucoHealth também, que é uma empresa que constrói a jornada de adesão medicamentosa. Então mais do que entregar a caixinha, é ajudar as pessoas na terapia medicamentosa. Ajudar na adesão, dar assistência farmacêutica, você pode gamificar essa jornada para aumentar a fidelidade. Esse é também um outro exemplo de uma solução que a gente cria através de startups. Hoje são nove startups que a gente tem aqui dentro do grupo, trabalhando em alguma frente. E a gente tem também um projeto muito legal no Capão Redondo, o projeto Farol, onde a gente criou uma parceria com o SUS para entregar as práticas integrativas complementares. O sistema não tinha como financiar esse tipo de prática e a gente construiu esse projeto junto com a comunidade do Capão. Criamos o centro lá. As pessoas, inclusive, que atuam lá dentro são as pessoas da própria comunidade. E a gente promove essas práticas lá dentro para gente aprender a direcionar a questão da promoção de saúde, do bem-estar pra esse público de baixa renda.

De que maneira o grupo RD Saúde está envolvendo pessoas de todas as idades no desenvolvimento de seus produtos e serviços? Tem algum investimento em manter equipes intergeracionais?

Bruno Pipponzi: A gente tem como uma prática aqui, especialmente na nossa plataforma de saúde, que constrói essas jornadas, fazer rodas com os clientes. Estamos construindo jornadas omnichannel, que estão endereçando dores relacionadas a jornadas desse público. Então, quando a gente vai fazer um balanço de resultados e entender realmente o impacto gerado, uma das análises que a gente faz são as análises qualitativas. Tem também as análises quantitativas de entender o volume de pessoas que estão dentro desses programas, entender o nível de engajamento, entender as evoluções desses indicadores, mas tem muito a escuta da população que de alguma forma se propõe a conversar com a gente. Então tem todo um trabalho que é feito. 

A Vitat faz isso com muita frequência, eles mandam os resumos dos testemunhos. E é muito legal porque normalmente as pessoas que estão envolvidas nessas dinâmicas são pessoas mais velhas, porque o produto acaba sendo mais direcionado pra essa população. Claro que tem alguns de promoção de saúde que vão mais na linha dos hábitos, da alimentação, da atividade física, que pega público mais jovem. Mas a seleção muitas vezes acaba caindo nesse público que vai dando os feedbacks para gente melhor entender como ajudar. Se a solução não for construída dessa forma, é muito difícil. Você cria o seu próprio mundo. Você tem que entender realmente como agregar mais valor. Qual é o papel da farmácia nesse processo? Como que eu posso aumentar realmente o nível de engajamento? São discussões que a gente está a todo momento tendo aqui.

Uma senhora com descendência japonesa brinca com sua neta

O mapeamento realizando pelo Lab Nova Longevidade reúne mais de 400 iniciativas de todos os setores que estão ajudando a repensar a longevidade no Brasil. O que precisa acontecer para que a sociedade crie mais demanda por soluções que viabilizem e valorizem as contribuições de pessoas de todas as idades?

Bruno Pipponzi: Eu acho que primeiro a sociedade está despertando para isso. Infelizmente, a gente vive num mundo onde a forma que as pessoas endereçam as ofertas, está muito vinculada à demanda. Então, no passado a gente falava “ah, mas a população idosa é menor”, é um mercado menor. E aí você tinha menos olhar para isso. Infelizmente, isso é muito drive de construção das coisas, né? Só que quando a gente olha para frente, não tem um lugar que você vá, não tem nenhuma análise de mercado que você acompanhe que você não veja esse fenômeno. Eu vejo cada vez mais os próprios empreendedores e os governos, a iniciativa privada, todo mundo se referindo a essa questão do envelhecimento como um ponto de muita atenção que a gente precisa ter.

Hoje você começa a observar muito mais mobilização das empresas, das indústrias, do setor privado, o setor público em geral também na questão dos desafios do envelhecimento. Porque amanhã, a gente vai depender muito disso e vai ser um mercado consumidor gigantesco. Se você parar para pensar no idoso, pensa na vovó lá de trás, que tinha 60 anos, que ficava em casa, tricotava. Hoje, uma mulher de 60 anos é compatível com a mulher de 30 daquela época. Esse mercado está crescendo muito. As pessoas estão percebendo que existe muita vida e muita qualidade depois dos 60. E isso vai fazendo emergir um mercado consumidor muito grande.

Então eu acho que essas iniciativas naturalmente vão começar a emergir, porque é uma oportunidade. Eu acho que o movimento já começou, porque esse mercado ainda vai crescer muito. Agora também tem o lado das políticas públicas. Acho que tudo isso vai sendo puxado. O governo discutir mais como transformar a previdência em algo mais útil para as pessoas, não virar aquela coisa da renda que fica pingando todo mês. Como que a gente cria um sistema mais produtivo para que a previdência e a aposentadoria sejam um negócio de maior propósito para as pessoas, para os idosos. Como a gente pode estender políticas de emprego para as pessoas mais velhas também? Porque elas têm muita experiência depois de 60. Estão muito jovens também. O exemplo que eu estava dando da mulher de 60 anos. Ela ainda tem muita energia para trabalhar, para fazer muitas coisas. Então eu acho que é o despertar. Eu vejo hoje, realmente, em diversos exemplos, que essas iniciativas estão ganhando força. E eu acho que com o tempo isso só vai se fortalecer porque vai ter muito dinheiro nessa conversa.

As pessoas estão percebendo que existe muita vida e muita qualidade depois dos 60. E isso vai fazendo emergir um mercado consumidor muito grande.

Você se considera um agente transformador do mundo? Se sim, como é que é envelhecer nesse papel?

Bruno Pipponzi: Eu me considero um cara transformador do mundo, porque eu tenho várias iniciativas que eu trabalho. A que eu dedico a maior parte do meu tempo é muito transformadora. Aonde a gente vai chegar, a gente só vai saber lá na frente. Se 20% do plano acontecer, a gente vai transformar bastante coisa. E fora isso, eu trabalho com outros projetos também, projetos sociais, instituto do meu pai, com meu irmão inclusive. Então me coloco nesse lugar. Pensando o meu envelhecimento, eu nunca vou sossegar. Manter a minha saúde, meu propósito, é essencial para eu querer viver muito tempo. Então meu papel de transformador vai ser pela vida toda, mas eu vou querer adequar ao longo da vida esse papel. Hoje eu tenho bastante energia pra entregar isso intelectualmente e fisicamente. Mas quando eu ficar mais velho, eu enxergo uma vida que não vai nunca se descolar desse propósito, mas que vai mudar a forma disso acontecer. Então, mentoria, emprestar minha experiência para projetos, criar coisas que me deem muito prazer e deixar de lado aquelas que me desgastaram ao longo da vida. Eu também penso em algum nível em poder trabalhar com políticas públicas, de repente entrar um pouco mais nesse universo para gerar movimentos mais impactantes também, porque isso realmente faz a roda girar. É um pouco assim que eu enxergo o meu papel: esse propósito nunca vai sair de mim, mas, ao longo da vida, formatos de contribuição vão evoluindo para eu conseguir me manter ativo e com propósito até meus 100 anos, quem sabe?

Bruno Pipponzi

Sobre Bruno Pipponzi

Formado em Odontologia, Bruno Pipponzi descobriu que era apaixonado por Gestão e seguiu para a pós-graduação em Administração de Empresas pela FGV e formação executiva na Universidade de Stanford. Hoje, Bruno ocupa a posição de Vice-Presidente na RD Saúde , fruto da união entre Droga Raia e Drogasil, que cresceu, se tornando a maior rede de farmácias do Brasil e expandindo para além do varejo farmacêutico, integrando soluções B2B e plataformas digitais.

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