Layse Vicente

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Fórum Gerações e Futuro do Trabalho

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Um ambiente de trabalho inclusivo melhora a satisfação e retenção de talentos, fortalecendo a competitividade das empresas.

Layse Vicente

Por que um Fórum Gerações e Futuro do Trabalho?

Layse Vicente: O Fórum Gerações e Futuro do Trabalho é necessário dada a importância cada vez mais evidente da discussão qualificada sobre diversidade etária nas empresas e na sociedade em geral. Hoje temos uma população cada vez mais longeva e estamos testemunhando o fim do bônus demográfico, ou seja, o final do período em que a proporção de pessoas em idade economicamente ativa supera a de não-ativas, e o mercado de trabalho e a sociedade precisam responder a essa nova realidade de maneira adequada, eliminando o etarismo considerando a interseccionalidade do tema. Além disso, a discussão sobre o presente e futuro do trabalho é inevitável quando tratamos de gerações, pois precisamos olhar para as questões de hoje, mas também nos prepararmos para o amanhã. Por fim, tratar do tema gerações e futuro do trabalho é crucial para as empresas hoje, pois a diversidade etária traz diferentes perspectivas, que são fundamentais para a inovação e sustentabilidade dos negócios. Como já sabemos, um ambiente de trabalho inclusivo melhora a satisfação e retenção de talentos, fortalecendo a competitividade das empresas. Além disso essa é uma pauta que, mesmo em diferentes proporções e momentos, afeta ou afetará todas as pessoas dentro e fora do mercado de trabalho.
Dois casais de amigos se abraçam.

Pesquisas apontam que a resistência de manutenção e contratação dos 60+ são embasadas na ideia de que os mais velhos têm dificuldade com tecnologia e resistência para serem liderados por pessoas mais jovens. Isso é idadismo?

Layse Vicente: Sim, a ideia de que a idade é fator único e fundamental para definir se uma pessoa tem dificuldade com tecnologia ou se terá resistência em relação à liderança é o reflexo de um comportamento baseado em estereótipos naturalizados na nossa sociedade, que é etarista. Essa discriminação apenas cria barreiras que limitam as oportunidades de profissionais mais experientes (re)acessarem o mercado, desvaloriza as contribuições e habilidades daqueles(as) que já fazem parte da organização, além disso, impede o compartilhamento de experiências entre gerações, essencial para o crescimento saudável e sustentabilidade da empresa.

Quais as consequências do autoidadismo para a autoestima, performance, aprendizado e engajamento dos 60+?

Layse Vicente: O autoidadismo, ou a internalização de estereótipos negativos sobre a própria idade, pode ter sérias consequências na vida pessoal e profissional de pessoas 60+. Ele pode provocar uma imagem de si distorcida e limitada, pois a idade deixa de ser uma das várias dimensões da vida e passa a ser um aspecto determinante para definir até onde a pessoa pode chegar. Isso diminui a autoestima e afeta a autopercepção pessoal e profissional. A performance pode ser prejudicada, já que essas pessoas podem sentir-se desmotivadas ou inseguras para assumir novos desafios. Quando falamos de aprendizado, o autoidadismo pode criar uma resistência ao desenvolvimento de novas habilidades, pois muitas vezes a pessoa sequer tenta, por achar que não vai conseguir. Por consequência o engajamento no trabalho pode diminuir, o que resulta em uma menor satisfação e até a possível desistência da carreira.

Quando falamos de aprendizado, o autoidadismo pode criar uma resistência ao desenvolvimento de novas habilidades.

Que mudanças culturais precisam ocorrer para facilitar a entrada e manutenção dos 60+ na força de trabalho?

Layse Vicente: Mudanças culturais levam tempo e precisam de medidas intencionais e consistentes de curto, médio e logo prazo. Esses esforços devem fazer parte da estratégia do negócio em todos os níveis da empresa, e não pode ser um trabalho apenas de RH ou de uma área específica. A cultura é construída no dia a dia e é responsabilidade de todas as pessoas, principalmente das lideranças. Pessoas com mais de 50 anos representam apenas de 3% a 5% do quadro de pessoas colaboradoras das empresas e isso precisa mudar.

Pessoas com mais de 50 anos representam apenas de 3% a 5% do quadro de pessoas colaboradoras das empresas e isso precisa mudar.

De que maneira o Fórum Gerações e Futuro do Trabalho colabora para abrir espaço para os 60+ no mercado de trabalho?

Layse Vicente: O Fórum Gerações e Futuro do Trabalho estabelece seis compromissos para as empresas participantes. Por meio desses princípios, o Fórum incentiva as organizações a adotarem ou fortalecerem políticas e práticas inclusivas para todas as gerações, com foco especial nas mais vulneráveis no mercado de trabalho, os jovens da geração Z (1997 a 2012) que estão ingressando e profissionais da geração Baby Boomer (1946 a 1964) que enfrentam dificuldades para se manterem ativos no mercado. Olhando para a população 60+ e nossos compromissos, o Fórum colabora da seguinte maneira: estimulamos as empresas a se conscientizarem sobre a importância da convivência entre pessoas 60+ e as demais gerações, principalmente a Z, combatendo o preconceito baseado em idade; aprofundamos o debate sobre as diferentes gerações e seus impactos nos negócios da empresa; incentivamos as signatárias a adotarem modalidades de contratação que ofereçam proteção e flexibilidade; discutimos medidas para garantir a inclusão digital de trabalhadores(as) 60+, oferecendo capacitação contínua nas atuais e novas tecnologias; reconhecemos a possibilidade de múltiplas carreiras ao longo da vida e fornecemos apoiamos na construção de oportunidades concretas de desenvolvimento profissional. Por fim, ajudamos as empresas a adaptarem suas políticas e práticas aos novos contextos de trabalho, garantindo o bem-estar e a segurança física e psicológica das pessoas.
Um grupo de idosos sorrindo

Qual a importância e vantagens de investir em equipes intergeracionais?

Layse Vicente: Investir em equipes intergeracionais é fundamental para criar um ambiente de trabalho mais dinâmico, resiliente e sustentável, aproveitando a diversidade de experiências, perspectivas e habilidades dessas gerações. Profissionais mais jovens podem trazer novas perspectivas sobre as tendências, processos e tecnologias atuais, enquanto os(as) mais maduros(as) contribuem com o conhecimento e experiência acumulada ao longo da vida.  Essa combinação de abordagens impulsiona a inovação e resulta em ideias mais criativas que fortalecem a empresa. Além disso, a mentoria natural nesses times promove uma troca de conhecimento bidirecional, fortalecendo uma cultura de aprendizado contínuo. Equipes intergeracionais também contribuem para um ambiente de trabalho mais adaptável. Diferentes gerações respondem de maneiras variadas às mudanças e desafios, oferecendo uma gama de estratégias e soluções que aumentam a capacidade da organização de se ajustar rapidamente às demandas do mercado. Empresas que valorizam a diversidade etária também conseguem oferecer melhores serviços e produtos mais aderentes às demandas do público atual e alcançar novos mercados, atendendo melhor às expectativas de consumidores(as) ao compreenderem melhor as necessidades de diferentes faixas etárias. Investir em equipes intergeracionais não é apenas uma responsabilidade social, mas também uma estratégia inteligente de negócios que traz inúmeros benefícios para a organização.

Investir em equipes intergeracionais não é apenas uma responsabilidade social, mas também uma estratégia inteligente de negócios que traz inúmeros benefícios para a organização.

Quais aprendizados o Fórum Gerações e Futuro do Trabalho já pode compartilhar com o ecossistema de longevidade?

Layse Vicente: Um dos principais ensinamentos é a importância da escuta ativa e do princípio “nada sobre nós sem nós”, como destacado por April D’Aubin. Incluir pessoas 60+ nas discussões desde o planejamento das iniciativas é essencial para garantir que suas necessidades e perspectivas sejam realmente atendidas. Além disso, é crucial tratar a pauta de gerações de forma interseccional, reconhecendo as diversas vivências dentro de uma mesma geração e evitando vieses e estereótipos. Chimamanda Adichie, em “O Perigo da História Única”, alerta sobre a importância de considerar múltiplas narrativas para evitar generalizações simplistas. Outro aprendizado é a necessidade de ter intencionalidade. Gerações, assim como os outros temas de diversidade e inclusão, são estratégicos e de responsabilidade de todas as pessoas na organização, especialmente da liderança, pois no final do dia, estamos falando de cultura organizacional e a cultura se constrói e se consolida nas atitudes cotidianas, tanto individuais quanto coletivas. Elaborar um plano estruturado com metas, métricas e objetivos explícitos também é importante, pois a teoria e as conversas são necessárias, mas a prática é fundamental.

O mapeamento reúne mais de 400 iniciativas de todos os setores que estão ajudando a repensar a longevidade no Brasil. O que precisa acontecer para que a sociedade crie mais demanda por soluções que viabilizem e valorizem as contribuições de pessoas de todas as idades?

Layse Vicente: Para que a sociedade crie mais demanda por soluções que viabilizem e valorizem as contribuições de pessoas de todas as idades, é necessário promover diversas ações e mudanças em múltiplos níveis, incluindo educação, políticas públicas, cultura organizacional e conscientização social.  Esse processo deve começar desde a infância, com o fomento do respeito mútuo entre as gerações nas escolas, em casa e em outros espaços sociais. Esse é um investimento de longo prazo. De forma mais imediata, incentivar programas de educação continuada, além de promover campanhas de conscientização que destaquem os benefícios da diversidade etária no ambiente de trabalho e na sociedade em geral.  No âmbito das políticas públicas, é essencial aprimorar, desenvolver e implementar legislações inclusivas que incentivem a contratação e retenção de trabalhadores(as) de diferentes faixas etárias, bem como oferecer incentivos fiscais para empresas que adotem práticas inclusivas e invistam na formação de profissionais de todas as idades. No contexto da cultural, precisamos incentivar o consumo de conteúdos que abordem o tema e onde as pessoas se sintam representadas sem estereótipos. Estabelecer parcerias entre governos, empresas, ONGs e instituições educacionais para desenvolver iniciativas que promovam a inclusão etária é uma estratégia eficaz, que une forças, cria pontes de interesse comum. Por fim e não menos importante, investir em pesquisas que demonstrem os benefícios econômicos e sociais da inclusão etária e criar mecanismos para monitorar e avaliar o impacto das políticas e práticas mais inclusivas.
Layse Vicente

Sobre Layse Vicente

Layse Vicente é Secretária Executiva Adjunta do Fórum Gerações e Futuro do Trabalho, onde é responsável pela gestão da principal iniciativa voltada à promoção da diversidade etária nas organizações no Brasil. Com mais de seis anos de experiência em Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I), Layse também atua como Consultora de Diversidade e Inclusão na Mais Diversidade, auxiliando empresas na criação e implementação de programas estratégicos de DE&I. Graduada em Pedagogia e Assessoria Executiva, possui pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos e MBA em ESG e Inovação. Além disso, é agilista certificada em Scrum, Kanban e OKR, combinando a cultura Ágil com um profundo compromisso em construir ambientes de trabalho mais inclusivos e equitativos.

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