Anna Fontes

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Itaú Viver Mais

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A pesquisa é fundamental para embasar os melhores argumentos sobre a importância de tais mudanças ou criações para o público-alvo. Além disso, o IVM muitas vezes divulga políticas já existentes, mas desconhecidas por muitos, contribuindo para sua efetiva implementação e reconhecimento.

Anna Fontes

Para começar, por que um Itaú Viver Mais? Por que uma instituição financeira investe em impacto social na longevidade?

Anna Fontes: Há 20 anos, o Itaú identificou um dos principais fenômenos da atualidade: o processo contínuo e acelerado de envelhecimento da sociedade brasileira. Esse processo já ocorria em diversos países, como França, Japão e Itália, mas no Brasil trouxe dois efeitos adicionais que mostram uma profunda mudança social. O primeiro é a significativa redução da taxa de natalidade, com cada vez mais mulheres tendo menos filhos. O segundo é a expressiva necessidade de mudanças socioeconômicas e políticas que o Brasil enfrentaria, cerca de 80 anos antes do previsto para outros países, devido ao fato de ser um país em desenvolvimento, diferente das economias desenvolvidas dos países citados. Essas mudanças na dinâmica social impactam diretamente o pensamento e as ações, tanto nos negócios quanto nos investimentos sociais do Itaú. Essas foram as principais razões que motivaram a criação do Itaú Viver Mais (IVM), uma associação sem fins lucrativos. Sua missão é garantir uma vida digna para as pessoas idosas, articulando ações com toda a rede de proteção de direitos dessa população.
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Quais são as frentes de atuação do Itaú Viver Mais?

Anna Fontes: O IVM atua em três grandes eixos. No primeiro, Capacitação Técnica e Fomento, o objetivo é fortalecer a rede de proteção dos direitos da pessoa idosa, engajando e capacitando o poder público, empresas e a sociedade civil organizada. No segundo eixo, Geração e Disseminação de Dados e Conteúdos, o objetivo é trazer visibilidade à causa do envelhecimento populacional, estimulando a geração e o compartilhamento de dados como instrumentos para a tomada de decisão. Em três anos, produzimos mais de 13 pesquisas e estudos sobre diferentes temáticas inter-relacionadas, incluindo cuidado, impacto do envelhecimento no Brasil, empreendedorismo, violência patrimonial e feminização da velhice. Por último, está o eixo Novos Modelos de Trabalho e Renda, com o objetivo de estimular o desenvolvimento de modelos inclusivos e inovadores de trabalho e geração de renda para a população 50+.
Desenvolvemos a formação empreendedora para pessoas LGBT 50+ e a Trilha Viver Mais, que busca levar conhecimento para a otimização dos recursos financeiros da pessoa idosa.

E por que o Itaú Viver Mais escolheu fazer interface também com a academia? Qual é a importância da pesquisa acadêmica para a inovação social no campo da longevidade?

Anna Fontes: Acreditamos que é impossível desenvolver ações eficazes para as diferentes realidades da velhice no Brasil sem gerar dados de qualidade e promover o conhecimento sobre as várias dimensões da longevidade. Por isso, estabelecemos parcerias com centros de pesquisa reconhecidos, com o objetivo de patrocinar estudos alinhados aos eixos de atuação do IVM. Essas parcerias são fundamentais para sensibilizar e fomentar o entendimento necessário para inovações sociais no campo da longevidade.

Como as pesquisas acadêmicas contribuem para o desenho, implantação e avaliação de políticas públicas voltadas para a pessoa idosa?

Anna Fontes: Na Europa, especialmente em Londres, existe um conceito bem desenvolvido chamado “políticas públicas baseadas em evidências” (PPBE). Essas políticas são formuladas e implementadas a partir de dados e informações coletados de maneira rigorosa e sistemática. Nas últimas décadas, a demanda e a oferta por PPBE cresceram tanto que hoje se reconhece a existência de um movimento global de PPBE. No Brasil, esse movimento ainda está em estágio inicial.

As PPBE aplicam procedimentos rigorosos e sistemáticos para a coleta de dados, transformando esses dados em conhecimento formal que é efetivamente útil na tomada de decisões. A crescente disponibilidade de uma variedade de dados, produzidos por um número cada vez maior e mais diverso de pesquisadores e instituições, facilita a criação dessas políticas. Esse processo é apoiado pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação e pela crescente demanda por governos transparentes, responsáveis e que prestem contas de seus atos e gastos.

O IVM tem como essência articular-se com toda a rede de proteção dos direitos da pessoa idosa, buscando fomentar novas ações e potencializar políticas já existentes. A pesquisa é fundamental para embasar os melhores argumentos sobre a importância de tais mudanças ou criações para o público-alvo. Além disso, o IVM muitas vezes divulga políticas já existentes, mas desconhecidas por muitos, contribuindo para sua efetiva implementação e reconhecimento.

O Itaú já aprendeu algo com essas pesquisas? Algo colaborou para o desenvolvimento de produtos, de serviços ou mesmo para a assertividade na comunicação com o público idoso?

Anna Fontes: Sim, aprendemos muito com essas pesquisas. Um exemplo é a desmistificação do preconceito social sobre o uso da tecnologia por pessoas idosas. Comprovamos que há sim o uso de ferramentas digitais e analisamos o nível de interação nas diferentes faixas etárias a partir dos 50 anos, identificando oportunidades a partir de uma pesquisa com escuta ativa dos beneficiários finais.

Além disso, descobrimos que em 9 de cada 10 famílias brasileiras, a principal renda vem da pessoa idosa. Também observamos um aumento significativo nos casos de violência patrimonial contra idosos. Esses múltiplos fatores, identificados através de pesquisas e estudos realizados em parceria com centros de pesquisa, levaram o IVM a reunir parceiros internos e externos para criar a Trilha Viver Mais, uma capacitação 100% via WhatsApp com dois cursos: Bem-Estar Financeiro: Primeiros Passos e Me Protegendo Contra Golpes e Fraudes.

Vale destacar que a educação financeira para pessoas idosas não só protege seu patrimônio, mas também fortalece sua independência e confiança nas tomadas de decisões, influenciando positivamente toda a comunidade.

Vale destacar que a educação financeira para pessoas idosas não só protege seu patrimônio, mas também fortalece sua independência e confiança nas tomadas de decisões, influenciando positivamente toda a comunidade.

Quais aprendizados o Itaú Viveu Mais pode compartilhar com os empreendedores sociais atuando no campo da longevidade?

Anna Fontes: O Itaú Viver Mais pode compartilhar diversos aprendizados valiosos com os empreendedores sociais no campo da longevidade.Adaptar soluções às necessidades locais é importante, pois cada região tem suas particularidades. Envolver os beneficiários finais no processo de criação e implementação das soluções, por meio da escuta ativa, garante que as ações realmente atendam às suas necessidades. Parcerias estratégicas com centros de pesquisa, organizações governamentais e outras entidades potencializam resultados, reunindo recursos, expertise e ampliando o alcance das iniciativas. Sensibilizar a sociedade e comunicar assertivamente as questões relacionadas à longevidade ajuda a criar um ambiente mais acolhedor e inclusivo para os idosos.

Desenvolver modelos inovadores e inclusivos de trabalho e geração de renda para a população 50+ é fundamental. Programas que promovam o empreendedorismo e a inclusão social são essenciais para melhorar a qualidade de vida dos idosos. Proteger os idosos contra golpes e fraudes é uma necessidade crescente, e capacitações e campanhas de conscientização são essenciais para garantir a segurança financeira dessa população. Ao compartilhar esses aprendizados, o Itaú Viver Mais contribui significativamente para o desenvolvimento de ações mais eficazes e impactantes no campo da longevidade.

Adaptar soluções às necessidades locais é importante, pois cada região tem suas particularidades.

O mapeamento reúne mais de 400 iniciativas de todos os setores que estão ajudando a repensar a longevidade no Brasil. O que precisa acontecer para que a sociedade crie mais demanda por soluções que viabilizem e valorizem as contribuições de pessoas de todas as idades?

Anna Fontes: Para que a sociedade crie mais demanda por soluções que viabilizem e valorizem as contribuições de pessoas de todas as idades, é necessário um letramento abrangente de todos os componentes do ecossistema: indivíduos, sociedade, governo, organizações e empresas. 

Todos devem estar cientes das mudanças que estão ocorrendo, entender como essas mudanças impactam suas vidas e realidades, e então começar a criar e fortalecer caminhos possíveis. Sem esse conhecimento e compreensão, é inviável desenvolver políticas e projetos coerentes e eficazes.

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Anna Fontes

Sobre Anna Fontes

Anna Fontes é filha da Fatima Carlota e mãe do Bento Meireles, pós graduanda em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global pela PUCRS atua como Relações Institucionais no banco Itaú. Gestora do Itaú Viver Mais, associação sem fins lucrativo do Itaú, focada no público com mais de 50 anos, que emprega esforços no fomento do poder público, da sociedade civil organizada e da iniciativa privada, promovendo o acesso e a ampliação de direitos, melhorando a qualidade de vida e fortalecendo o poder de transformação das pessoas por meio do investimento social privado.

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