Portal do Envelhecimento e Longeviver
O conhecimento que era produzido ali para uma pequena tribo de acadêmicos que estudavam o envelhecimento não chegava à sociedade.
Beltrina Côrte
Beltrina Côrte: Eu acho que aí a gente está falando de duas coisas. No Brasil, nós temos uma produção acadêmica que não chega, digamos, a uma grande maioria. Por outro lado, nós temos gestores que não leem as pesquisas que são realizadas. Eu lembro que na época, pelo menos na PUC de São Paulo, o único objetivo que a gente sempre exigia que o aluno colocasse como objetivo específico era: qual é a contribuição social da tua pesquisa? O aluno não sabia. Seja contribuir ou subsidiar com a formulação de políticas públicas em relação à área cultural, de saúde, enfim, o aluno tinha que repensar. E aí sim, um gestor, alguém que está ali à frente de uma área que está pensando em serviços, em produtos ou em políticas, ele deve acompanhar as pesquisas. Leia as pesquisas porque ali tem muitas sugestões, tem muitas formulações de políticas que podem ser implantadas no país.
Beltrina Côrte: Eu acho que tem crescido bastante o interesse da Juventude pelo tema do envelhecimento, mas não ao ponto daquilo que a gente deseja. Enquanto estive vinculada à Psicologia da PUC (estou me aposentando esse ano), a gente sempre criava, eu e a Ruth (que foi uma das primeiras fellows da Ashoka), disciplinas eletivas, como por exemplo “Políticas Públicas Dirigidas à Pessoa Idosa na Cidade de São Paulo” ou então “Relações Intergeracionais”. Nunca diretamente o envelhecimento. Mas a gente ia pelas bordas até seduzir a juventude. A gente está até lançando uma cartilha sobre velhice com o pessoal do segundo ano da Psicologia. Trabalhamos com as subjetividades e envelhecimento. As velhices plurais, né?
E o que que eu observo? Houve um aumento, sim, de interesse. Mas, infelizmente, a gente só tem dois cursos de graduação em Gerontologia no País, que vão estudar especificamente a questão do envelhecimento e formar profissionais para trabalhar mais com gestão, seja na área cultural, social ou de saúde. Um é da USP e outro da UFSCAR. Temos um monte de cursos de tecnólogos. Então, tem aumentado até porque as velhices estão batendo na porta dos jovens, né? Seja através dos avós ou dos pais. Mas o que eu observo é que, por outro lado, a área da educação oferece pouco. Ela deveria instigar, deveria estar pensando em diferentes formações que pudessem orientar inclusive outras áreas na questão do envelhecimento.
Por que que eu falo isso? Na avaliação da graduação, nós temos por exemplo instrumentos, resoluções e portarias que obrigam todos os cursos a trabalharem com a questão ambiental ou com a questão étnica. E nós temos um estatuto da pessoa idosa que fala que a educação sobre o envelhecimento deveria ser desde o ensino fundamental. No entanto, nem no ensino superior ela aparece. Falta pressão. Então o que eu observo é que há uma procura; mas, por outro lado, você não vê as universidades ou o Ministério da Educação preocupados com essa temática.
“O autoidadismo é uma grande barreira para o exercício da cidadania ao longo da vida.“
“Eu acredito que o envelhecimento seja uma corresponsabilidade entre todos.“
Beltrina Côrte é jornalista, docente da PUC-SP e CEO do Portal do Envelhecimento e Longeviver. Estudiosa do envelhecimento humano pela perspectiva humanística desde os anos 90.
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