Mórris Litvak

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É fundamental combater o preconceito etário e valorizar a experiência e sabedoria dos trabalhadores mais velhos.

Mórris Litvak

Em 2023, mais de 4 milhões de trabalhadores com 60 anos ou mais estavam na informalidade. Esse número inclui aqueles que nunca tiveram carteira assinada e aqueles que se aposentaram e voltaram ao mercado como informais. A informalidade é o caminho para os 60+? Quais as barreiras para a permanência ou retorno dos 60+ ao mercado formal de trabalho?

Mórris Litvak: A informalidade, infelizmente, tem sido uma realidade para muitos trabalhadores 60+, em grande parte devido às barreiras que encontram no mercado formal. Entre essas barreiras estão o preconceito etário, a falta de atualização em habilidades tecnológicas, e a resistência das empresas em contratar pessoas mais velhas. Além disso, a aposentadoria muitas vezes não é suficiente para sustentar esses profissionais, forçando-os a buscar alternativas informais.
Quatro amigos 60+ estão sentados ao redor de uma mesa e estão conversando

Pesquisas apontam que a resistência de manutenção e contratação dos 60+ são embasadas na ideia de que os mais velhos têm dificuldade com tecnologia e resistência para serem liderados por pessoas mais jovens. Isso é idadismo?

Mórris Litvak: Sim, isso é idadismo. As ideias preconcebidas sobre as habilidades tecnológicas dos mais velhos e a suposição de que eles não aceitariam lideranças mais jovens são exemplos claros de discriminação etária. Essas suposições vem de estereótipos, que muitas vezes não refletem a realidade e limitam as oportunidades de trabalho para os profissionais 50 +e 60+.

Quais as consequências do autoidadismo para a autoestima, performance, produtividade e engajamento dos 60+?

Mórris Litvak: O autoidadismo pode ser extremamente prejudicial. Ele mina a autoestima dos indivíduos, fazendo-os acreditar que são incapazes ou inadequados para certas funções. Isso pode levar a uma queda na performance e produtividade, além de diminuir o engajamento e a motivação. Quando os próprios indivíduos acreditam nos estereótipos negativos, eles se limitam e deixam de buscar novas oportunidades.

De que maneira a Maturi colabora para abrir espaço para os 60+ no mercado de trabalho?

Mórris Litvak: A Maturi atua de várias maneiras para abrir espaço para os 50 e 60+ no mercado de trabalho. Oferecemos capacitação em habilidades digitais e outras competências necessárias, desde técnicas a comportamentais, passando até por autoconhecimento, conectamos profissionais a oportunidades de trabalho através de nossa plataforma, e trabalhamos com empresas para promover a inclusão etária e a diversidade em suas equipes. Além disso, realizamos cursos e eventos, promovendo o networking, bem como conteúdos (artigos, pesquisas e etc) e campanhas de conscientização sobre a importância de valorizar a experiência dos profissionais mais velhos.

Que mudanças legais precisam ocorrer para facilitar a entrada e manutenção dos 60+ na força de trabalho?

Mórris Litvak: Mudanças legais necessárias incluem a revisão das políticas de aposentadoria para permitir que os profissionais 60+ possam continuar trabalhando sem penalizações, incentivos fiscais para empresas que contratem e mantenham trabalhadores mais velhos, e a criação de programas de requalificação profissional específicos para essa faixa etária, tanto para a empregabilidade quanto para para o empreendedorismo.
Senhor de óculos, camisa xadrez e bigode, sorri

Que mudanças culturais precisam ocorrer para facilitar a entrada e manutenção dos 60+ na força de trabalho?

Mórris Litvak: É fundamental combater o preconceito etário e valorizar a experiência e sabedoria dos trabalhadores mais velhos. Precisamos promover a intergeracionalidade e a troca de conhecimento entre diferentes faixas etárias, além de educar gestores e colegas sobre os benefícios de equipes diversas em idade.

Que mudanças econômicas precisam ocorrer para facilitar a entrada e manutenção dos 60+ na força de trabalho? É necessário pensar em algum tipo de incentivo?

Mórris Litvak: Incentivos econômicos, como subsídios e informação para a contratação de profissionais maduros, podem ser uma solução eficaz. Além disso, é importante fomentar novas formas de trabalho entre os mais velhos, oferecendo linhas de crédito e apoio para novos negócios iniciados por essa faixa etária.

Qual a importância e vantagens de investir em equipes intergeracionais?

Mórris Litvak: Equipes intergeracionais trazem uma riqueza de perspectivas e experiências que podem impulsionar a inovação e a criatividade. A diversidade etária também melhora a resolução de problemas e a tomada de decisões, além de promover um ambiente de trabalho mais inclusivo e colaborativo.

Equipes intergeracionais trazem uma riqueza de perspectivas e experiências que podem impulsionar a inovação e a criatividade.

Quais aprendizados a Maturi pode compartilhar com a iniciativa privada?

Mórris Litvak: Ao longo de 9 anos, a Maturi conheceu e já participou de diversos projetos relacionados à inclusão de trabalhadores 50+, com isso mostramos a importância de capacitar continuamente esses profissionais, e evidenciar os benefícios da diversidade etária para a produtividade e a cultura organizacional, passando pelo RH mas principalmente pela liderança das empresas. Também podemos fornecer exemplos de políticas e programas que incentivam a longevidade produtiva.

Quais aprendizados a Maturi pode compartilhar com o setor público?

Mórris Litvak: Para o setor público, podemos destacar a necessidade de políticas de incentivo à contratação de profissionais mais velhos, a importância de programas de requalificação profissional, e a implementação de campanhas de conscientização para combater o preconceito etário, mostrando que isso dá resultado para as empresas, além de colaborar para a economia, previdência e saúde pública.

O mapeamento reúne mais de 400 iniciativas de todos os setores que estão ajudando a repensar a longevidade no Brasil. O que precisa acontecer para que a sociedade crie mais demanda por soluções que viabilizem e valorizem as contribuições de pessoas de todas as idades?

Mórris Litvak: Para aumentar a demanda por soluções que valorizem todas as idades, é necessário promover uma mudança cultural que reconheça o valor da experiência e da sabedoria dos mais velhos. Isso pode ser feito através de educação, campanhas de conscientização, políticas inclusivas e exemplos práticos de sucesso que demonstrem os benefícios da diversidade etária.

Você se identifica como um agente de transformação do mundo? Se sim, como é envelhecer nesse papel?

Mórris Litvak: Sim, me identifico como um agente de transformação. Envelhecer nesse papel é um processo contínuo de aprendizado e adaptação. É gratificante ver o impacto positivo do nosso trabalho e inspirar outras pessoas a valorizar a longevidade. Cada desafio enfrentado é uma oportunidade para inovar e promover um futuro mais inclusivo para todas as idades.
Mórris Litvak

Sobre Mórris Litvak

Mórris Litvak é engenheiro de software e empreendedor social, fundador e CEO da Maturi, uma startup de impacto social focada na inclusão de profissionais 50+ no mercado de trabalho. Com experiência em longevidade e envelhecimento populacional, Mórris é um especialista reconhecido no tema de diversidade etária no Brasil. Ele também é colunista da Fast Company Brasil e participa de diversos eventos e palestras sobre envelhecimento ativo, intergeracionalidade e inovação social. Inspirado por sua avó, que trabalhou até os 82 anos, Mórris é um ativista pela causa do envelhecimento com dignidade.

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