Sérgio Serapião: A gente tem que entender que, para além da inclusão dos 60+, a gente está passando por uma grande transformação no mercado de trabalho como um todo, no Brasil e no mundo, com avanço muito rápido da digitalização, que foi acelerada ainda mais pela Covid. As cadeias de valor estão se transformando muito rápido e os vários setores estão em plena ebulição, muitos deles desaparecendo. Isso faz com que tenha uma grande transformação no mercado de trabalho.
Se antes os segmentos eram mais estruturados e os ciclos econômicos eram mais bem traçados e mais longos, agora um ciclo de crescimento e finalização de determinada tecnologia, de determinada patente de um setor, ele tende a diminuir bastante. Isso faz com que a vantagem competitiva das empresas também fique super em risco. Isso é muito diferente do ambiente em que foram construídas as nossas leis trabalhistas. O próprio conceito de emprego foi construído num outro ambiente em que os planos podiam ser muito mais longos, as tecnologias demoravam menos tempo para ficarem defasadas, então havia possibilidade de investimento e de repagá-lo durante muitos anos. Então, nesse lugar em que era tudo muito longo prazo, você ter um funcionário, ou seja, alguém que cumpre uma função que você desenvolve e que seu tempo de relacionamento é indeterminado, faz sentido. Agora, quando os tempos ficam super curtos e super incertos, relações com prazo indeterminado começam a ficar muito em cheque.
Ou seja, o emprego, como a gente conhece, ele está em crise. Acho que essa é que é a grande crise. O Brasil foi muito competente com alguns avanços de legislação para reconhecer e tirar pessoas da informalidade no passado. O próprio projeto do Simples de reconhecer microempreendedores foi muito importante. Agora a grande discussão é como que se reconhece os nanoempreendedores. Estamos nesse processo e todo mundo que, de alguma forma, tem em risco a sua empregabilidade, seja porque é um grupo minorizado, seja porque realmente ficou defasado, tende a não pertencer a esse grupo de elite que vai continuar tendo trabalho. O trabalho que eu digo é emprego, emprego CLT. Aliás, se a gente olhar a CLT e é uma massa muito limitada de pessoas, historicamente, só estamos passando por uma restrição ainda maior.
É muito difícil essa constatação, mas a idade passa a ser um fator de desigualdade e um marcador identitário que transforma as pessoas em grupos minorizados e que, sim, aumenta o potencial delas de serem afastadas desse clubinho chamado CLT num mundo cada vez mais incerto. Então, eu não diria que a informalidade é o futuro dos trabalhadores 60+. Mas, certamente, modelos alternativos ao CLT sim, seja empreender, seja microempreender, seja nanoempreender, seja absolutamente informal.