“Eu acho que aí a gente está falando de duas coisas. No Brasil, nós temos uma produção acadêmica que não chega, digamos, a uma grande maioria. Por outro lado, nós temos gestores que não leem as pesquisas que são realizadas. Eu lembro que na época, pelo menos na PUC de São Paulo, o único objetivo que a gente sempre exigia que o aluno colocasse como objetivo específico era: qual é a contribuição social da tua pesquisa? O aluno não sabia. Seja contribuir ou subsidiar com a formulação de políticas públicas em relação à área cultural, de saúde, enfim, o aluno tinha que repensar. E aí sim, se um gestor, se alguém que está ali à frente de uma área que está pensando em serviços, em produtos ou em políticas, deve acompanhar as pesquisas. Leia as pesquisas porque ali tem muitas sugestões, tem muitas formulações de políticas que podem ser implantadas no país.“
“Na Europa, especialmente em Londres, existe um conceito bem desenvolvido chamado ‘políticas públicas baseadas em evidências’ (PPBE). Essas políticas são formuladas e implementadas a partir de dados e informações coletados de maneira rigorosa e sistemática. Nas últimas décadas, a demanda e a oferta por PPBE cresceram tanto que hoje se reconhece a existência de um movimento global de PPBE. No Brasil, esse movimento ainda está em estágio inicial.
O IVM (Itaú Viver Mais) tem como essência articular-se com toda a rede de proteção dos direitos da pessoa idosa, buscando fomentar novas ações e potencializar políticas já existentes. A pesquisa é fundamental para embasar os melhores argumentos sobre a importância de tais mudanças ou criações para o público-alvo. Além disso, o IVM muitas vezes divulga políticas já existentes, mas desconhecidas por muitos, contribuindo para sua efetiva implementação e reconhecimento.“
COCID da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado do Tocantins
“O Judiciário Tocantinense fez um alto investimento para a realização da pesquisa ‘Realidade da População Idosa no Estado do Tocantins‘, valendo-se da expertise de credenciados especializados e com capacidade técnica e acadêmica para compreender o público-alvo da pesquisa, bem como interpretar com maior fidedignidade os dados colhidos. Por certo que o conhecimento científico e acadêmico é de grande importância para trazer luz às ideias, necessidades e projetos de cidadania, facilitando o encontro do Judiciário com o cidadão e a compreensão das necessidades que, antes de se tornarem jurídicas, perpassam pelas dimensões físicas, emocionais, cognitivas, materiais, culturais e relacionais. O trabalho em rede, em equipe, multidisciplinar e interdisciplinar possibilita o alcance de resultados mais assertivos e sustentáveis.“
“Um país tem que ser construído para todo mundo. Todo mundo tem que se sentir feliz. Tem uma parte do nosso mapa estratégico que é uma sociedade justa, inclusiva e feliz. Eu quero que as pessoas naquele estado, elas sintam que o Estado é delas, que o Estado é feito para elas e que a gente possa ajudá-las a não só serem longevas, mas a terem uma longevidade com qualidade, acesso.
Incluindo digitalmente a população idosa, eu soluciono grande parte dos problemas socioeconômicos que eu tenho no meu estado. Eu soluciono o êxodo de talentos, porque eu desenvolvo novos talentos que possam gerar renda. Com acesso à informação, eu vou mitigar problemas de saúde, porque essas pessoas vão deixar de ir aos postos. Eu vou mitigar problemas tributários, porque elas vão ter também uma visão financeira e orçamentária muito melhor. Eu vou ter problemas psicológicos e familiares e de combate à violência muito menores, porque as pessoas vão ter acesso à informação, vão conseguir dialogar e construir essas políticas.
Então, eu poderia ficar muito tempo falando sobre os benefícios, mas eles são sempre nessa raiz. Se eu acredito que a pluralidade constrói inovação e aumenta o poder econômico de qualquer estado, eu preciso que essas pessoas sejam vocais. E eu acho que tem um efeito colateral que é de inspiração de outros estados. Porque se no Estado que tem a população mais longeva do país, a gente conseguiu construir políticas efetivas num modelo que seja escalável, eu posso emprestar, doar, ensinar para os meus pares. Então, acho que tem esse efeito cascata.“
“Um dos lemas que nos rege no FA.VELA é ‘empatia não substitui vivência‘. De nada adianta pensar em soluções que não incluem o ponto de vista de quem mais precisa delas, e por isso a diversidade etária é essencial no desenvolvimento de produtos, serviços e políticas públicas. A pluralidade de ideias é muito importante para o desenvolvimento da melhor solução possível, mas o que ocorre na maioria das vezes é que apenas certos grupos ficam encarregados de pensar e promover transformações para grupos plurais de pessoas. Quando não damos voz às principais partes interessadas, muitas vezes gastamos nossos esforções em criar soluções que em nada se adequam a quem precisa delas.“
“Pensar os territórios para gente é algo extremamente urgente, necessário e óbvio. O território é onde nós estamos. A gente está conversando, quem está lendo essa matéria, estamos todos em algum território. Esse território é parte da gente. A gente é parte do território também. Então, esse território, enquanto espaço vivo, ele precisa ser valorizado, validado e tudo o que está nele: crenças, valores, as pessoas e o processo de envelhecimento. O nosso programa Envelhecer nos Territórios visa justamente garantir essa possibilidade de envelhecer nos territórios com a presença de tudo aquilo que está lá. E se o território hoje não garante um bom envelhecimento, que nós possamos garantir isso, que as pessoas tenham os seus direitos, eu vou dizer até descobertos e alguns reforçados. E que não só as pessoas idosas queiram envelhecer ainda mais nesse território, mas que também as pessoas não idosas queiram um dia ser pessoas idosas nesses espaços.
O que a gente tem aprendido é isso. Há muitos direitos que as pessoas idosas talvez ainda não tenham percebido que elas têm tamanha é, muitas vezes, essa condição histórica de vulnerabilidade, de violências que são perpetuadas contra elas. Então, há muito que elas já sabem: o direito à saúde, a questão do trabalho. Esses são direitos que elas já reconhecem há muito tempo. Mas o que a gente quer ampliar é também a percepção da importância de um letramento em envelhecimento para todos os atores sociais presentes ali, sejam gestores de prefeitura, sejam acadêmicos, sejam profissionais das mais diversas áreas que atuam em relação à pessoa idosa.“
COCID da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado do Tocantins
“Nosso Brasil é extenso e possui realidades culturais e financeiras muito diferentes. Essas diferenças criam realidades distintas para os idosos e as famílias, podendo ser avaliadas em diversos aspectos, como por exemplo: Fatores Ambientais (Clima e Geografia, Acesso aos Recursos Naturais), Fatores Socioeconômicos (Renda e Emprego, Educação), Fatores Culturais (Tradições e Costumes, Rede de Suporte Social). O mapeamento do envelhecimento por território no Tocantins e em outras regiões do Brasil é essencial para a criação de estratégias e políticas que abordem de forma eficaz as necessidades diversificadas dos idosos, promovendo um envelhecimento saudável e digno para todos. O Judiciário do Tocantins fez o mapeamento nas 35 Comarcas do Estado, ou seja, as principais cidades que contam com Municípios e Distritos em seus entornos.“
“Eu sou a favor do uso do capital social para inovar, porque eu acho que é um capital que permite a tomada de riscos. Ele permite a utilização de novas ferramentas ainda não consagradas, de novos formatos, novas tecnologias de pesquisa. Ele permite se apropriar de outros espaços, de outros modelos de prestação de serviços. Eu acho que o Beja tem esse lugar de inovar com capital social privado. É o meu lugar predileto como filantropa. Eu gosto de olhar o que é diferente. Cada um de nós pode ser protagonista de alguma criação se a gente for para esse espaço de laboratório também. Provavelmente você vai ter habilidades diferentes da minha. Eu sempre brinco na minha casa que a minha irmã do meio tem solução para tudo. Eu não sou essa pessoa, mas eu sou a pessoa que vai atrás do sonho, que tem as ideias. Cada ser humano se complementa, assim como a gente se individualiza e ao mesmo tempo coletiviza a nossa individualidade, trazendo esse policapital que a gente tem para ir para esse lugar de pensar diferente. Então, eu acho que é a obrigação da Filantropia também estar nesse lugar de conscientização e inovação.“
“Com absoluta certeza! O maior obstáculo enfrentado pela população 60+ é a ideia de que eles ‘não são capazes’ ou ‘não possuem interesse nem habilidades com as tecnologias’, e esses são pensamentos totalmente etaristas. Muitos dos nossos alunos se veem surpresos com a facilidade que têm em navegar pelo meio digital, pois sempre lhes disseram que seria o contrário.“
“Muito. Como o digital é algo recente é natural que tenhamos a visão que é algo de pessoas jovens. Aí os públicos que estão fora dessa categoria facilmente se veem como não pertencentes – o que é reforçado pela publicidade, pelas interfaces e todo o sistema. Por isso que desenhar as soluções sempre considerando esse público é importante, para diminuir essa barreira.“
“Dado o poder de consumo da população 60+, é fundamental que as pessoas idosas façam parte da equipe criativa que cria produtos e serviços, que atende, que negocia e que gerencia uma empresa. A máxima ‘nada sobre nós sem nós‘ vale para esse nicho que tem cada dia mais poder de escolha entre marcas. É questão de sobrevivência atender bem esse público! E internamente, há diferenças de estilo de gestão entre jovens e mais velhos, pelo fato incontestável de que anos de experiência aumentam percepção de contexto, de análise de impacto e consequências e há uma evolução do foco em si para foco em grupo. Isso está num estudo publicado pela Revista MIT Sloan Management (na edição brasileira chama ‘Mais velho, mais sábio? Como o estilo de gestão varia com a idade’).“
“Investir em equipes intergeracionais é fundamental para criar um ambiente de trabalho mais dinâmico, resiliente e sustentável, aproveitando a diversidade de experiências, perspectivas e habilidades dessas gerações. Profissionais mais jovens podem trazer novas perspectivas sobre as tendências, processos e tecnologias atuais, enquanto os(as) mais maduros(as) contribuem com o conhecimento e experiência acumulada ao longo da vida. Essa combinação de abordagens impulsiona a inovação e resulta em ideias mais criativas que fortalecem a empresa. Além disso, a mentoria natural nesses times promove uma troca de conhecimento bidirecional, fortalecendo uma cultura de aprendizado contínuo.“
“Equipes intergeracionais trazem uma riqueza de perspectivas e experiências que podem impulsionar a inovação e a criatividade. A diversidade etária também melhora a resolução de problemas e a tomada de decisões, além de promover um ambiente de trabalho mais inclusivo e colaborativo.“
“Sem dúvida. A percepção de não-covalência entre tecnologia e idade, como se fosse óleo e água, é um baita de um preconceito. Tem muita gente jovem que odeia a tecnologia, que não sabe lidar com isso. Tem pessoas mais velhas que são o contrário. Isso não é um fator de idade, né? Agora, por outro lado, quem é uma pessoa nativa digital não percebe vários aspectos de tecnologia como sendo afastados do seu mundo, porque sempre conviveu com aquilo ali. Talvez a babá dela tenha sido o iPad. Essa proximidade pode favorecer as pessoas, não necessariamente o faz. A gente percebe que o idadismo que vincula a tecnologia à juventude faz com que, na verdade, os espaços de aprendizagem de tecnologia sejam desenhados para os mais jovens (seja os exemplos, o ambiente, a forma de ensinar). Aí fica difícil da pessoa mais velha aprender. No minuto em que a gente desenvolveu alguns projetos, com acompanhamentos específicos e com referências de aprendizagem específicas, as pessoas mais velhas aprendem muito bem e têm performance muito boa.“
“Tudo que coloca pessoas numa classificação homogênea induz a erro. Os 60+ são os jovens que se formaram sem computador e fizeram toda a revolução para computador pessoal, internet e smartphones. Então, pode-se dizer que fizeram a mudança mais radical. Portanto, dificuldade com tecnologia é relativo! O que ocorre na minha opinião pessoal é que todo ser humano só vai atrás de atualização quando lhe é conveniente. Quem permaneceu no trabalho foi se atualizando naturalmente, mas quem saiu e não buscou ativamente essa atualização agora sente dificuldade. Na minha casa, tenho pais muito ativos e antenados aos 84 anos, então talvez por isso eu não entendia a aposentadoria compulsória aos 60. Na minha realidade, tirar a pessoa do trabalho por idade era sem sentido. Nossa mente cria vieses constantemente com o que temos por perto. Contudo, mídia, redes sociais e propaganda podem mitigar isso ou reforçar. No caso, a nossa mídia é jovencêntrica e acaba reforçando o culto ao jovem. Vem daí a polarização de jovem versus velho e o idadismo.“
“Não sei dizer se é idadismo, pois temos dificuldades com a tecnologia sim. Nós falamos, trabalhamos a vida inteira sem ela e a inclusão dela no nosso dia a dia é um processo muito mais difícil do que para quem está participando disso desde o começo. E quanto a ser liderado por pessoas mais jovens, eu acho que pode ser até interessante. Não interessa a idade da pessoa, interessa o que ela é, o que ela está propondo e como.“
“Sim, a ideia de que a idade é fator único e fundamental para definir se uma pessoa tem dificuldade com tecnologia ou se terá resistência em relação à liderança é o reflexo de um comportamento baseado em estereótipos naturalizados na nossa sociedade, que é etarista. Essa discriminação apenas cria barreiras que limitam as oportunidades de profissionais mais experientes (re)acessarem o mercado, desvaloriza as contribuições e habilidades daqueles(as) que já fazem parte da organização, além disso, impede o compartilhamento de experiências entre gerações, essencial para o crescimento saudável e sustentabilidade da empresa.“
“A gente tem que entender que, para além da inclusão dos 60+, estamos passando por uma grande transformação no mercado de trabalho como um todo, no Brasil e no mundo, com avanço muito rápido da digitalização. As cadeias de valor estão se transformando muito rápido e os vários setores estão em plena ebulição, muitos deles desaparecendo. Isso faz com que tenha uma grande transformação no mercado de trabalho. O próprio conceito de emprego foi construído num outro ambiente em que os planos podiam ser muito mais longos, as tecnologias demoravam menos tempo para ficarem defasadas, então havia possibilidade de investimento e de repagá-lo durante muitos anos. Agora, quando os tempos ficam super curtos e super incertos, relações com prazos indeterminados começam a ficar muito em cheque. Ou seja, o emprego, como a gente conhece, ele está em crise. O trabalho que eu digo é emprego, emprego CLT. Aliás, se a gente olhar a CLT e é uma massa muito limitada de pessoas, historicamente, só estamos passando por uma restrição ainda maior. É muito difícil essa constatação, mas a idade ela passa a ser um fator de desigualdade e um marcador identitário que transforma as pessoas em grupos minorizados e que, sim, aumenta o potencial dela ser afastada desse clubinho chamado CLT num mundo cada vez mais incerto. Então, eu não diria que a informalidade é o único futuro dos trabalhadores 60+. Mas, certamente, modelos alternativos ao CLT sim, seja empreender, seja microempreender, seja nanoempreender.“
“O Brasil ainda está no início de sua adaptação à reforma trabalhista feita em 2015. Essa reforma traz muitas possibilidades de contratações formais além do padrão que as empresas estão acostumadas, que é de período integral com subordinação hierárquica e horário rígido. Essa é uma herança que temos da era industrial, mas que hoje é desnecessária à maioria dos negócios, pois estamos na sociedade de serviços, com funções facilmente assíncronas ou intermitentes. Contudo, o desconhecimento disso ainda é preponderante pelos empresários e há também o medo de não saber implantar as modalidades de contratações e sofrer processos trabalhistas. Assim, contratações que poderiam estar ocorrendo dentro da formalidade, gerando impostos e mais estabilidade para sêniores acabam por ficar na gaveta. E a formalidade não precisa ser “carteira assinada” apenas, pode ser o que chamamos de contratação PJ. Em suma, com nossa pirâmide etária, o Brasil não terá como abrir mão da nossa população ativa 60+ nas próximas décadas e nossa legislação já está preparada para isso. Resta apenas as empresas entenderem todas as novas formas de contrato formal e se disporem a evoluir o tipo de gestão (de modus operandi indústria para a revolução digital atual).“
“A informalidade, infelizmente, tem sido uma realidade para muitos trabalhadores 60+, em grande parte devido às barreiras que encontram no mercado formal. Entre essas barreiras estão o preconceito etário, a falta de atualização em habilidades tecnológicas, e a resistência das empresas em contratar pessoas mais velhas. Além disso, a aposentadoria muitas vezes não é suficiente para sustentar esses profissionais, forçando-os a buscar alternativas informais.“
“Quanto mais a população envelhece, quanto mais a nossa expectativa de vida aumenta, as gerações que estão vindo já virão com esse aprendizado. Mas ainda tem um gargalo sim. O que a gente faz é estar mais próximo desse usuário, de quem consome esse tipo de tecnologia para fazer as adaptações de usabilidade. Também tentamos nos inspirar em plataformas que já são amplamente utilizadas, como WhatsApp e redes sociais que os idosos já usam com bastante frequência. E trazer muito da inclusão, que está no nosso roadmap, trazendo conteúdos ou orientação por áudio.
Ainda nesse quesito de inclusão, do ponto de vista de infraestrutura, a gente já fez alguns avanços, como criar um aplicativo web e não nativo, porque o acesso é muito mais fácil, você manda um convite no WhatsApp, não ocupa memória do celular. Se ele esquece, manda outro convite ali pelo WhatsApp mesmo. As atualizações que frequentemente têm que ser feitas são todas do lado da plataforma, então vai simplificando tudo isso.
Outro avanço foi deixar o check-list de quem executa o cuidado praticamente só clicável. Ele quase não tem nada para escrever. Ele pode escrever um comentário ou uma observação extra, mas diria que 90% do que ele tem que fazer basta clicar. Marcar se está ok, se não está ok, se está feito, se não está feito.“
“Sem dúvida. Utilizamos a tecnologia da forma mais acessível possível. A plataforma de cursos é intuitiva, de fácil navegação, simplificada, para quebrar as barreiras tecnológicas. Assinamos um convênio com o Fundo Social do Estado de São Paulo e passamos a atuar nas Praças da Cidadania de Paraisópolis e Guarulhos.
Durante a pandemia, capacitamos moradores para cuidarem das pessoas idosas em diferentes comunidades, com apoio do G10 Favelas e Emprega Comunidades. Temos parceria com a ACIRMESP – Associação de Cuidadores da Região Metropolitana de São Paulo e estamos ampliando para associações de Norte a Sul do país. Os parceiros têm um papel fundamental para garantirmos o alcance cada vez maior de nossas soluções. Nosso objetivo é levar, por meio das empresas, terceiro setor e governos, as tecnologias e metodologias tornando-as acessíveis a todos.“
“De maneira geral, as pessoas não têm essa visão. Infelizmente, o Brasil não dá as mesmas condições para todo mundo. Mas a gente vê que as pessoas que têm mais condição e mais consciência sobre a saúde, o desafio que elas mesmas se impõem de viver mais e melhor. Cada vez mais as pessoas estão entendendo que não é sobreviver até os 95 anos e sim viver até os 95 anos com qualidade, com autonomia, com independência. Eu acho que a saúde está muito relacionada a isso: a sua capacidade de realizar suas próprias tarefas, seus projetos e por aí vai. Então, eu acho que cada vez mais existe uma visão das pessoas em torno de um envelhecimento saudável, com independência, com autonomia. Mas ao mesmo tempo, eu não acho que existe uma consciência de que tudo isso é para que você tenha a sua liberdade e que você não dependa de alguém. Esse olhar de prover cuidado ao outro ainda é muito pouco desenvolvido em qualquer segmento. Este é um ponto importante pra endereçar, sem dúvida. Meus pais falavam isso pra mim quando eu tinha uns 15 anos. Meu pai me falou: ‘A última coisa que eu quero é que eu seja um fardo na vida de vocês, que eu dependa de vocês’. Eu também não desejo isso para os meus filhos. Só que isso não é porque a gente está analisando essa problemática de cuidar do outro, mas é porque a gente não quer dar trabalho. Tem um problema gigante aqui. Só que a gente quer não gerar trabalho para os nossos filhos. A gente não pensa que um dia pode ter que cuidar de outras pessoas e que esse movimento pode acontecer. É uma boa discussão, uma boa provocação.“
“Sabidamente, a gente não tem essa cultura. O brasileiro acaba se programando muito pouco para as coisas. Quando eu estava na Faculdade de Saúde Pública, eu participei de um projeto de preparação para aposentadoria. As pessoas aos 55 anos eram convidadas para poder participar de um workshop. Chegava na hora, ‘isso aí não é comigo, não vai acontecer’. Como não vai acontecer? Tomara que aconteça!
A gente não está preparado, a gente se planeja muito pouco. A gente deveria ter noção de cuidados mínimos com o outro, porque isso vai acontecer, principalmente para as famílias, da forma mais inesperada e mais abrupta. A gente está aqui, minha avó mora em casa, ela cai, quebra o fêmur, você vira um cuidador. Estando preparado ou não, a gente vira e a rotina começa a ser mudada, transformada e de uma forma muito atravancada se você não tem esse conhecimento ou se não tem quem possa te ajudar nisso.“
“Primeiro que a mulher, ela tivesse o reconhecimento desse trabalho que é invisível, que isso fosse mais tangível nos ambientes familiares e para a sociedade como um todo. E que a partir disso se desdobrasse em ações que pudessem trazer algum tipo de contrapartida, de reconhecimento para a mulher: seja um horário no trabalho, uma licença diferente, uma pausa durante o dia. Pode ter uma isenção de algum imposto que ela paga porque ela tem uma renda menor, pois parte do tempo dela está investindo para cuidar de outra pessoa. E não é só cuidar da mãe dela, mas entender que aquela mãe tem um peso social também. É um trabalho invisível que afeta não só a família, afeta a sociedade como um todo.“
“Precisamos reconhecer que cuidado é amor, mas também é trabalho. O familiar que se dedica a esta missão está contribuindo para a dignidade, saúde e proteção da vida de uma pessoa longeva, está fazendo cumprir o Estatuto da Pessoa Idosa. Muitos familiares que cuidam precisam abrir mão do trabalho remunerado, o que tornam ainda mais escassos os recursos da família, inclusive para as necessidades das próprias pessoas idosas. Cuidado não tem preço, mas tem custo. Os cuidadores familiares sendo preparados, reconhecidos e apoiados financeiramente poderão atuar ainda mais fortemente para uma longevidade mais saudável no país (a própria e a do seu ente), podem contribuir para diminuir a sobrecarga do sistema de saúde, atuando de forma preventiva.“
“Eu acho que no nosso modelo mental a gente vê o velho, o idoso, meio como café com leite, por mais que ele ajude. De uma maneira bem generalista, é assim: eu deixo meu filho com a minha mãe, mas ela vai meio ter que fazer o que eu estou mandando. Eu vejo muitas amigas que as mães ajudam, pegam na natação, levam. Estou falando do nosso recorte deste o tamanho. Mas tem um pouco esse lugar, do café com leite. Por mais que ajude, nosso modelo mental nos leva sempre naquele lugar em que você tem que dar uma checada se fez direito. A gente precisa desconstruir isso. Não é café com leite. É um outro jeito de fazer. Não é menos válido. É um outro jeito de entregar. Da mesma maneira, se você vai contratar uma pessoa mais idosa para trabalhar na sua empresa, como caixa do supermercado, por exemplo. Não é pensar que agora o caixa está mais devagar. É normal, esse é o ritmo agora. É assim. A fila de espera agora vai ter esse tempo, pronto. É preciso ter um pouco mais de cuidado para realmente entender que, se a gente está falando de uma outra fase da vida, outro tempo, ela não é menos válida, menos importante, como o café com leite, sabe? Eu acho que ainda tem muito da visão do café com leite, de dar uma checada, se fez do jeitinho que a gente queria que fizesse.“
“Acho que precisamos, acima de tudo, ser muito bem-informados. Não ficar na bolha. Saber exatamente o que está afetando a nós mesmos. Como a coletividade está sendo afetada e, a partir disso, entender o que precisa ser transformado e como transformar. Estar aberto a isso. É um diálogo, é uma escuta, é um dia a dia, é o exercício da cidadania. Se apropriar das coisas. Querer ser, querer estar.
Por isso esse lugar do constrangimento deprime qualquer um. Daí eu não quero que, por exemplo, que a minha mãe ache que ela está incomodando porque está usando um carrinho de apoio no momento de uma mobilidade fraca. Por que se as cidades não estão preparadas para mobilidade? Também não tem um atendimento efetivo. Você já viu quão atrapalhados podem ser esses atendimentos por aplicativo? Selfie, selfie. Atendimento no supermercado? Para quem? Uma população que está em transição e que ainda não está preparada para isso? As filas que acontecem. As reclamações.
Por que colocam as pessoas nesse lugar de constrangimento, sabe? Isso me incomoda muito e para isso eu sou a primeira agente de transformação. A gente tem que falar: ‘Está errado assim’. Porque a sociedade também impõe modelos. A pessoa está velha, ela é avó, cuida de neto. Então, pronto, acabou. Eu não vou ser avó, por exemplo, porque eu não tenho filho. Então, em que lugar vou me colocar? Eu não vou esperar que me coloquem. Sou eu que me coloco. Então, acho que é um pouco isso. A gente está em transição. Eu entendo que são padrões comportamentais, mas precisamos virar o jogo.“
Coordenadoria da cidadania – COCID da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado do Tocantins